#02 Café na veia - Entendendo e combatendo o racismo - Raízza Fernandes - Propondo com diálogo e café

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

#02 Café na veia - Entendendo e combatendo o racismo - Raízza Fernandes

O propondo com diálogo e café chega com seu segundo Café na veia, a convidada é Raízza Fernandes que se denomina: "uma mulher negra, Baiana, apaixonada por café e cinema,  e futura jornalista". Extremamente cafeínada, Raízza está aqui no Propondo com diálogo e café para responder a nossa galera da cafeína sobre o racismo, uma temática que é muito necessária para reflexão, combate e que precisa ser profundamente entendida, afinal um dos pontos do antirracismo é pararmos para estudar e ouvir pessoas com lugar de fala. Através de interação na nossa página do Instagram abrimos o diálogo, nossos seguidores participaram com perguntas muito interessantes e que tocam em vários pontos que precisamos aprender. 

Galera, o café está pronto esperando por vocês, venham ler e estimular o pensamento crítico com a gente! 

Entendendo e combatendo o racismo

1. Sendo o racismo estrutural quais políticas públicas você considera eficaz para combatê-lo?

Políticas públicas de combate ao racismo e de promoção da igualdade sociorracial só serão verdadeiramente eficazes se forem aplicadas em várias  áreas, como por exemplo a da segurança pública, cuja política de Estado promove um verdadeiro genocídio da população negra (segundo um relatório produzido pela Rede de Observatórios da Segurança em 2019, 75% dos mortos por policiais são negros).

Já no âmbito da educação, de onde vem possivelmente o exemplo mais bem sucedido desse tipo de ação no Brasil, a Lei de Cotas, que desde sua criação, em 2012, dobrou o número de pessoas negras em cursos de graduação. Na mesma linha dessa política, é preciso garantir a esses alunos, em sua maioria de baixa renda, a permanência na universidade, com o fortalecimento de auxílios estudantis.

Há muito o que ser melhorado também na área da saúde pública, da educação básica, da distribuição de renda, enfim, o país ainda tem uma dívida muito grande com o povo negro, e parece não haver pressa em quitá-la.

2. Preto ou Negro, eis a questão.

Primeiramente é preciso ressaltar que não há um consenso. Tanto as palavras negro, quanto preto já foram utilizados no Brasil com uma conotação de ofensa, mas ao longo do tempo houve um processo de ressignificação desses termos, que os tirou deste lugar negativo, e lhes atribuiu uma carga de auto afirmação, de orgulho.

Ainda assim, algumas pessoas não gostam do termo negro, e preferem serem chamadas de preto, ou vice versa. Isso depende muito do indivíduo e do contexto  em que ele está inserido, como coloca Ynaê Lopes, professora da Escola Superior de Ciências Sociais e História da FGV " A escolha mais adequada está vinculada às formas por meio das quais negro(a)s e preto(a)s do Brasil se identificam e se compreendem como indivíduos".

3. Você acha que o racismo tem diferença de sexo? Digo se as mulheres negras sofrem mais racismo por ser mulher.

Não bastasse ter que lidar com as mazelas do racismo, mulheres negras têm que enfrentar também o machismo. Em 2019, um estudo do IBGE apontou que as mulheres negras são as pessoas que mais sofrem com o desemprego, e quando encontram trabalho chegam a ganhar até 44% a menos que um homem branco. Elas também são as maiores vítimas de feminicídio, cerca de 60%, e de violência doméstica, 58%.Essas são apenas algumas estatísticas que nos dão uma noção da situação da mulher negra no Brasil, mas é possível que os números sejam ainda piores, porque muitos crimes nem chegam a ser denunciados.

 Lélia Gonzalez, intelectual e ativista negra, 1989 afirmou que “Para a mulher negra, o lugar que lhe é reservado é o menor. O lugar da marginalização. O lugar do menor salário. O lugar do desrespeito em relação a sua capacidade profissional”. A fala tem mais trinta anos, mas é assustadoramente atual.

4. Por que você acha que muitos locais só chamam pessoas pretas na hora de falar sobre racismo?

É muito comum reservar ao negro meramente o lugar de "temáticas negras". E é sim muito importante falar sobre raça, preconceito, negritude, sem debater esses assuntos não seremos, como sociedade, capazes de mudar as estruturas. Mas, além de ser extremamente limitante ao negro falar somente sobre isso, afinal temos muito mais a acrescentar ao mundo, também pode ser muito doloroso.

5. Quais leituras vocês indicam sobre o assunto?

Há muitas obras que eu poderia indicar aqui, mas vou tentar ser breve e me resumir a três, são elas:

  • Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada- Carolina Maria de Jesus

Quarto de Despejo é uma compilação dos diários de Carolina Maria de Jesus, mulher negra, mãe solteira e moradora da favela do Canindé em São Paulo, entre os anos de 1955 e 1960. O livro narra de forma fascinante o dia a dia na favela, enquanto perpassa por temas como machismo, desigualdade social, fé e racismo.

É uma leitura difícil, mas ao mesmo tempo cativante. Carolina expõe com muita honestidade não só a sua realidade, mas também a de pessoas que não tiveram acesso a recursos básicos.

  • Mulheres, Raça e Classe- Angela Davis

Uma obra essencial para entender o conceito de interseccionalidade e as "sutilezas" das opressões. Neste livro a professora, filósofa e ativista, Angela Davis trata sobre a escravidão e seus efeitos até hoje duradouros, da desumanização da mulher negra, da importância de uma luta anticapitalista que também pense gênero e raça, além de denunciar o encarceramento em massa da população negra.

  • Pele Negra, Máscaras Brancas- Frantz Fanon

Neste livro o psiquiatra, filósofo e ensaísta francês, Frantz Fanon examina a negação da existência do racismo, tema tão evidente no Brasil atual, enquanto discorre sobre a diáspora africana, o processo de descolonização, e o impacto do preconceito racial na psique tanto da vítima, como do algoz. 


Por Raízza Fernandes

Que conteúdo incrível hein galera?! Primeiramente agradecer a Raízza Fernandes pela disponibilidade para compartilhar seu conhecimento, trabalho de pesquisa e sua experiência conosco. Esse café na veia foi só o ouro 😋 Ah ... e aguardem por mais participações dessa mulher cafeínada 😜, que tem muito a contribuir com os diálogos quentíssimos e proposições cafeínadas do nosso blog!

Não é de agora que admiramos Raízza e que gostaríamos de trazê-la para participar dos conteúdos do Blog, gostamos por suas opiniões contundentes e por estar na luta contra uma sociedade racista, tentando fazer um mundo melhor, uma honra recebê-la para tratar dessa temática que aprendemos cada vez mais. Quando a convidamos aceitou de pronto e contribuiu com a definição da abordagem desse Café na veia. Os pontos que vieram desse diálogo são muito reflexivos, conseguimos tirar uma série de ensinamentos quanto ao Racismo ser um problema profundamente estrutural e institucionalizado, não foi por acaso que foi o primeiro assunto tratado nas nossas Redações cafeínadas #01 Redação cafeínada - Racismo – Mazela histórica e estrutural, #02 Redação cafeínada - Como ser antirracista? e na nossa primeira Dica expressa #01 Dica expressa - Expresso 01 - Reflexão sobre o racismo. Precisamos parar e entender que o racismo não se combate apenas com manifestações temporárias e isoladas, mas com ação e para agir precisamos entender como fazer e fazer com efetividade, pois o combate ao racismo é dever de todos. O Propondo sempre será aberto a essa luta, pessoas negras ou pretas têm total espaço no nosso canal de comunicação para falar sobre os diversos temas e mostrar as suas vozes. Gostaríamos de agradecer também a nossa galera da cafeína que estiveram presentes na nossa interação e colocaram seus questionamentos. Fiquem ligados que voltaremos propondo diálogos bem cafeínados para vocês! 💛☕☕🖤

Propondo com diálogo e café 


Fontes:
Atlas da Violência 2019 - Ipea

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