sexta-feira, 14 de agosto de 2020
#03 Dica expressa - Expresso 03 - Reflexão sobre o feminismo
"Feminista: uma pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica de ambos os sexos."
Séries
Anne with an E
Coisa mais linda
Filmes
Em busca de Lélia
Chega de fiu fiu
Documentário dirigido e roteirizado por Amanda Kamanchek
Lemos e Fernanda Frazão, idealizado a partir da campanha homônima criada por
Juliana de Faria, iniciativa que deu resultado, entre vários ganhos, ao “Mapa
Chega de fiu fiu” plataforma que coleta depoimentos sobre assédio sexual contra
mulheres, o objetivo claro é atenuar esse problema e prestar apoio as vítimas.
A obra audiovisual traz o assédio sexual sofrido por mulheres cotidianamente
pela visão delas próprias, com relatos extremamente impactantes, o foco em si é
em três mulheres de diferentes regiões do país: Rosa Luz rapper e artista
visual brasiliense, Raquel Carvalho que é uma estudante de enfermagem
soteropolitana e Teresa Chaves professora de história paulista. Elas filmam seu
dia a dia que expõe a violência sofrida por mulheres pelo Brasil a fora, com
assédio a todo momento, seja na rua, no ônibus, metrô e outros. Essas imagens
são intercaladas com elas falando sobre as experiências vividas e a opinião de
especialistas das diversas áreas sobre a questão, além de uma roda de conversa com
homens falando e ouvindo sobre o tema e sua masculidade tóxica, que inclusive foi tema de
uma de nossas Redações cafeínadas: #07 Redação cafeínada - O poder nocivo da masculinidade tóxica. Fica extremamente claro que o assédio a
mulheres precisa ser discutido e o feminismo é muito necessário. O documentário
é forte, duro e expõe as feridas que a sociedade causa as mulheres, trata
também de outros assuntos como racismo, gordofobia e transfobia, sua montagem é
cirúrgica e não há quem assista que não saia refletindo. Disponível no Globo
Play.
Para mais informações sobre esse belo projeto acessem: Chega de fiu fiu
Personalidade
Elza Soares
Nascida Elza Gomes da
Conceição a artista vem de família humilde e enfrentou desde cedo as limitações
sociais, raciais e de gênero. Natural do Rio de Janeiro Elza foi obrigada ainda
adolescente pelo pai a se casar, sofreu violência sexual e doméstica do
primeiro marido e foi mãe aos 12 anos. Seus dois primeiros filhos morreram de desnutrição
em dois dos grandes traumas que marcaram a vida dessa mulher, posteriormente
teve uma filha sequestrada, só a reencontrando 30 anos depois, casou-se com o
jogador de futebol Garrincha sofrendo novamente com violência e abandono do cônjuge,
perdeu o único filho com o atleta com apenas 9 anos e sua mãe em um acidente de
carro, conduzido pelo marido bêbado, posteriormente perdeu outro dos oitos
filhos que teve em 2015, fato que tornou a lhe abalar profundamente.
Tinha o sonho desde criança de cantar e começou na profissão confiando em seu potencial para superar as dificuldades e conseguir criar os 4 filhos que tinha a época. Com voz potente e única Elza é uma das maiores estrelas da música brasileira, em 2000 foi premiada pela BBC como “A maior cantora do milênio”, interpretou o hino nacional na cerimônia dos jogos Pan Americanos do Brasil em 2007, foi indicada ao Grammy em 2002. Dona de sucessos como “Maria de Vila Matilde”, “A carne”, “O que se cala” e “A Mulher do fim do mundo” o qual o álbum homônimo lançado em 2015 e o “Deus é Mulher” de 2018 são dos exemplos de trabalhos de denúncia profunda contra o racismo e a opressão a mulher, sucessos de crítica e público chegam aos ouvidos de várias gerações e pregam fortemente o feminismo.
Elza é uma vencedora,
superou questões sociais, raciais, violência física e psicológica, problemas de
saúde para ser uma voz ativa na busca de uma vida melhor para tantos outros. É
merecedora de todas as homenagens possíveis e aqui citamos algumas outras, foi
enredo da Unidos de Cabuçu e da Mocidade Independente de Padre Miguel, recebeu o
título de doutora Honoris causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
e teve lançado em 2014 um filme chamado “My Name is Now, Elza Soares”.
Elza Soares é luz e
inspiração!
Aqui algumas de suas citações:
Para saber mais sobre essa grande mulher, seguem recomendações:
Combo expresso
Crônica
Não as matem
"Não as matem" faz parte da publicação "Vida Urbana", uma coletânea de crônicas e artigos, publicada em 1953. A crônica de 1915 do autor Lima Barreto, que foi o homenageado na Festa Literária de Paraty (FLIP) em 2017, retrata o combate ao feminicídio, demonstrando evidentemente que não é um problema dos nossos tempos.
Confiram a íntegra:
Não as matem
Esse rapaz que, em Deodoro, quis matar a ex-noiva e suicidou-se em seguida, é um sintoma da revivescência de um sentimento que parecia ter morrido no coração dos homens: o domínio, quand même, sobre a mulher.
O caso não é único. Não há
muito tempo, em dias de carnaval, um rapaz atirou sobre a ex-noiva, lá pelas
bandas do Estácio, matando-se em seguida. A moça com a bala na espinha, veio
morrer, dias após, entre sofrimentos atrozes.
Um outro, também, pelo
carnaval, ali pelas bandas do ex-futuro Hotel Monumental, que substituiu com
montões de pedras o vetusto Convento da Ajuda, alvejou a sua ex-noiva e
matou-a.
Todos esses senhores parece que
não sabem o que é a vontade dos outros.
Eles se julgam com o direito de
impor o seu amor ou o seu desejo a quem não os quer. Não sei se se julgam muito
diferentes dos ladrões à mão armada; mas o certo é que estes não nos arrebatam
senão o dinheiro, enquanto esses tais noivos assassinos querem tudo que é de
mais sagrado em outro ente, de pistola na mão.
O ladrão ainda nos deixa com
vida, se lhe passamos o dinheiro; os tais passionais, porém, nem estabelecem a
alternativa: a bolsa ou a vida. Eles, não; matam logo.
Nós já tínhamos os maridos que
matavam as esposas adúlteras; agora temos os noivos que matam as ex-noivas.
De resto, semelhantes cidadãos
são idiotas. É de supor que, quem quer casar, deseje que a sua futura mulher
venha para o tálamo conjugal com a máxima liberdade, com a melhor boa-vontade,
sem coação de espécie alguma, com ardor até, com ânsia e grandes desejos; como
e então que se castigam as moças que confessam não sentir mais pelos namorados
amor ou coisa equivalente?
Todas as considerações que se
possam fazer, tendentes a convencer os homens de que eles não têm sobre as
mulheres domínio outro que não aquele que venha da afeição, não devem ser
desprezadas.
Esse obsoleto domínio à
valentona, do homem sobre a mulher, é coisa tão horrorosa, que enche de
indignação.
O esquecimento de que elas são,
como todos nós, sujeitas, a influências várias que fazem flutuar as suas
inclinações, as suas amizades, os seus gostos, os seus amores, é coisa tão
estúpida, que, só entre selvagens deve ter existido.
Todos os experimentadores e
observadores dos fatos morais têm mostrado a inanidade de generalizar a
eternidade do amor.
Pode existir, existe, mas,
excepcionalmente; e exigi-la nas leis ou a cano de revólver, é um absurdo tão
grande como querer impedir que o sol varie a hora do seu nascimento.
Deixem as mulheres amar à
vontade.
Não as matem, pelo amor de
Deus!
Vida urbana, 27-1-1915
Música
Desconstruindo Amélia
Composta por Pitty e Martín (guitarrista até hoje da banda), a música que está no álbum Chiaroscuro, começa criando a representação da mulher Amélia, ou seja, a mulher que vive para cuidar do lar, dos filhos, do marido. O nome Amélia que não aparece na letra da música, mas que fica evidente nos versos o porquê do nome, surgiu a partir da música Ai que saudade da Amélia, uma composição de Ataulfo Alves e Mário Lago, considerada um dos maiores sucessos da MPB. A música da vida ao nome Amélia e o seu perfil estereotipado e submisso, retratando o machismo e um preconceito social de que as mulheres devem ser prendadas em todos os sentidos para servir o homem.
A música Desconstruindo Amélia começa construindo a Amélia, para
depois desconstruí-la no refrão e na segunda parte, onde ela percebe seu valor
e seu protagonismo, VIRANDO A MESA E ASSUMINDO O JOGO.
Confira as letras das
músicas:
Ai que Saudades da
Amélia
Nunca
vi fazer tanta exigência
Nem
fazer o que você me faz
Você
não sabe o que é consciência
Não
vê que eu sou um pobre rapaz
Você
só pensa em luxo e riqueza
Tudo
o que você vê, você quer
Ai
meu Deus que saudade da Amélia
Aquilo
sim que era mulher
As
vezes passava fome ao meu lado
E
achava bonito não ter o que comer
E
quando me via contrariado dizia
Meu
filho o que se há de fazer
Amélia
não tinha a menor vaidade
Amélia
que era a mulher de verdade
Ataulfo
Alves e Mário Lago
Desconstruindo
Amélia
Já
é tarde, tudo está certo
Cada
coisa posta em seu lugar
Filho
dorme, ela arruma o uniforme
Tudo
pronto pra quando despertar
O
ensejo a fez tão prendada
Ela
foi educada pra cuidar e servir
De
costume esquecia-se dela
Sempre
a última a sair
Disfarça
e segue em frente
Todo
dia, até cansar
E
eis que de repente ela resolve então mudar
Vira
a mesa,
Assume
o jogo
Faz
questão de se cuidar
Nem
serva, nem objeto
já
não quer ser o outro
hoje
ela é um também
A
despeito de tanto mestrado
Ganha
menos que o namorado
E
não entende o porquê
Tem
talento de equilibrista
ela
é muitas, se você quer saber
Hoje
aos trinta é melhor que aos dezoito
Nem
Balzac poderia prever
Depois
do lar, do trabalho e dos filhos
Ainda
vai pra night ferver
Disfarça
e segue em frente
Todo
dia, até cansar
E
eis que de repente ela resolve então mudar
Vira
a mesa,
Assume
o jogo
Faz
questão de se cuidar
Nem
serva, nem objeto
já
não quer ser o outro
hoje
ela é um também
Pitty
e Martin
Vale a
pena conferir essa matéria com análise da música, estrofe por estrofe: Desconstruindo Amelia - Analise.
Na época
do lançamento da música leiam o que Pitty escreveu:
Depois de queimar o sutiã, obter
direito ao voto e passar a exercer cargos de comando em poderosas empresas,
como sentem-se hoje as mulheres? Aliviadas por terem mais autonomia ou
sobrecarregadas porque além dos afazeres domésticos acumulam a função de
sustentar uma casa?
Pesquisei, e não pude deixar de
(re) ler O Segundo Sexo de Simone de Beauvoir; obra esta que me ajudou a
clarear os pensamentos e a trazer para a música a seguinte frase: Já não quer
ser o Outro, hoje ela é Um também.
A Amélia de Ataulfo e Mário Lago
mudou. Aquela que ‘era mulher de verdade e que não tinha a menor vaidade’ hoje
se desdobra entre a delicadeza de saber preparar uma refeição e a garra de
acordar cedo pra ir trabalhar e tomar decisões. E, claro, se por acaso der pra
fazer as unhas no intervalo do almoço, melhor ainda.
Movimento político
Juntas
As Juntas é um
grupo de codeputadas eleitas para Assembleia Legislativa do Estado de
Pernambuco, a candidatura foi lançada nas eleições de 2018 pelo PSOL, grupo
declaradamente feminista é composto pela jornalista Carol Vergolino, pela
ambulante Jô Cavalcanti, pela estudante de Letras Joelma Carla, pela professora
Katia Cunha e pela advogada Robeyoncé Lima. Parafraseando o próprio site da iniciativa elas
declaram quais são seus objetivos:
“Eleitas pelo PSOL com
39.175 votos, as Juntas Codeputadas formam a primeira mandata coletiva e
feminista a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).
A mandata coletiva é uma experiência política inovadora. É a ideia de
coletividade, que vai de encontro à ideia velha e antiga de individualismo na
política, trazendo o senso de coletividade na participação política.
Uma participação política
de pessoas diversas, de diferentes raças, gêneros, classes sociais. De
diversidade nesses espaços, que ainda hoje são majoritariamente brancos,
misóginos e machistas. Usamos o termo ‘Mandata’ como uma reivindicação e
desobediência à uma gramática misógina que coloca o masculino numa posição de
privilégio hierarquizado, para demarcar a referência feminista e para provocar
a sociedade a refletir sobre a baixa presença de mulheres nos espaços
políticos.
Isonomia, diálogo,
horizontalidade e transparência são princípios que norteiam as relações e
práticas entre as codeputadas e equipe. A presença das Juntas na Alepe
simboliza uma mudança estético-política que ainda está em curso.
Somos muitas, estamos
juntas e queremos ser mais.”
Nas urnas foram
representadas por Jô, porém todas as decisões são tomadas em conjunto e o
trabalho tem sido feito com o posicionamento firme prometido na campanha,
movimentos com as Juntas ajudam a aumentar a representatividade feminina na
política e aceleram a evolução para o que o feminismo tanto quer, que é a igualdade
de gênero.
Para acompanhar as Juntas: Juntas Codeputadas
Curta metragem
Sou MC Carol 100% feminista
O curta
metragem é um documentário com Carolina de Oliveira Lourenço, a MC Carol, mulher
negra, gorda, de família humilde, criada no Morro do Preventório no Rio de
Janeiro e feminista.
Produzida por estudantes da Universidade Federal Fluminense e vencedor do troféu “Elipse 2018” promovido pelo Programa Estadual de Fomento ao Curta Universitário da Cesgranrio, a obra é um bate papo direto e franco com a artista, que defende claramente o movimento feminista e expõe sua história de luta para conseguir romper os percalços impostos por sua origem, aparência e raça, Carol é firme no seu posicionamento e traz isso em cada uma das suas composições, uma delas é a música “100% feminista” em parceria com Karol Conka. Vejam aqui: 100% Feminista - Mc Carol e Karol Conka - Letra [Lyrics Video]
Ela é clara ao dizer que o
funk salvou sua vida e se orgulha do reconhecimento e condições que ele
proporcionou, contando sobre sua vida pessoal e profissional, além de suas inspirações e aspirações a cantora deixa
extremamente claro que ainda há muito a ser feito e que está totalmente
inserida nesse processo.
MC Carol
é um dos grandes expoentes de denúncia a violência doméstica contra mulheres. Inclusive
tratado na nossa Redação cafeínada: #08 Redação cafeínada - Feminismo e o combate a violência contra as mulheres no isolamento social. Coloca sempre sua cara também para expor a
violência sexual e o preconceito racial e gordofóbico, fazendo da sua voz e do
seu prestígio dento do funk e do pop como forças motrizes.
Venham assistir ao curta: Curta-metragem | SOU MC CAROL, 100% FEMINISTA | Prêmio Elipse 2018
Gostaram das dicas pessoal? Esperamos que sim. Podem ter certeza que fizemos tudo com muita pesquisa, fundamentação e carinho, para realmente dar o tratamento que esse assunto merece e trazer para vocês nossa adorada galera da cafeína o melhor conteúdo. Definimos essa temática pois ela é de primordial importância, porém ainda sofre com a ignorância e preconceito, sendo muitas vezes negligenciada e atacada, inserimos esse tema nas Redações cafeínadas e trazemos agora recomendações de como parar para refletir sobre essa questão. São variados formatos justamente para atingir os variados gostos, portanto assistam, leiam, ouçam e se inspirem. O feminismo quer igualdade e a igualdade é extremamente necessária, se ainda não compreendem, procurem compreender, pois não cabe mais dizer que não é algo fundamental, muito menos que não é algo respeitável, o feminismo salva vidas e podem ter certeza que nós do Propondo com diálogo e café continuaremos tocando nesse assunto e cobrando ação!
Fonte das fotos/imagens: Google imagens
Um assunto muito pertinente nos dias atuais. Parabéns galera cafeteira!
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