terça-feira, 13 de outubro de 2020
#03 - Café propositivo - Cinema Novo: A Expressão de um Brasil Real - Raízza Fernandes
Alô galera da cafeína! Ela está de volta, a maravilhosa Raízza Fernandes que já nos brindou com #02 Café na veia - Entendendo e combatendo o racismo - Raízza Fernandes, agora volta para falar de uma de suas maiores paixões: o cinema. Nós não menos apaixonados pela sétima arte e sabendo que Raízza não só partilha do mesmo sentimento mas também conhece a história e gosta de falar sobre, a convidamos para colaborar com algum acontecimento cinematográfico de grande relevância e a escolha não poderia ser mais representativa para o nosso país, o Cinema Novo. Movimento de importância ímpar na história do cinema nacional e internacional, o Cinema Novo tem influência também em diversas áreas da sociedade, trazendo uma verdadeira revolução comandada por jovens audaciosos e que buscavam fazer e acontecer com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. É um "pecado" que essa história seja ainda tão pouco explorada e conhecida, mas esperamos que pelas mãos de nossa convidada desse terceiro expresso do café propositivo possamos aguçar a curiosidade de vocês e aumentar a valorização do nosso cinema, que não deve em nada para qualquer outro! Cheguem mais, pega o café, a pipoquinha e vamos passear por esse importante marco.
Relato pessoal da Metamorfose Ambulante:
Ao convidar Raízza, com intuito de poder conhecer ainda mais sobre o cinema da Bahia, sabia que viria coisa boa do seu artigo, mas confesso, que sem muitas delongas, ela foi certeira em trazer o Cinema Novo como tema desse Café propositivo, e não tem como deixar de citar Glauber Rocha, esse baiano cafeínado que com certeza, foi um dos maiores cineastas do mundo, para além disso trazendo resquícios da futura profissional que será, Raízza constrói em seu artigo a opinião sagaz sobre o nosso cinema e a oportunidade que temos em aproveitá-lo, pois tá esperando o que? Corre e vem se deleitar com: Cinema Novo: A Expressão de um Brasil Real por Raízza Fernandes.
Cinema Novo: A Expressão de um Brasil Real
"Eu sou o samba
A voz do morro sou eu mesmo sim senhor
Quero mostrar ao mundo que tenho valor
Eu sou o rei dos terreiros"
É assim, ao som de A Voz do Morro de Zé Keti, que Nelson Pereira dos Santos abre o seu primeiro filme, "Rio, 40 graus". Quando decidiu contar a história de cinco garotos da favela que, no domingo de sol escaldante, vendem amendoim em pontos turísticos do Rio de Janeiro, Nelson acabou voltando a lente de sua câmera, e atenção do público para uma realidade que até aquele momento o cinema brasileiro tinha escolhido esconder.
Negros, pobres, favelados, influenciado pelo neorrealismo italiano, o diretor colocou o povo na tela. Isso irritou o governo e a polícia, que proibiram o filme em todo o território nacional, com a desculpa de que o filme exibia "apenas aspectos negativos da vida brasileira". Talvez Nelson não tivesse noção da dimensão que o seu filme iria tomar. Mas, Rio, 40 graus inspirou toda uma geração de novos cineastas e criou a base para o surgimento nos anos 1960 do que hoje conhecemos como Cinema Novo.
"Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça" quem nunca ouviu a máxima do cineasta baiano, e principal expoente do movimento, Glauber Rocha? Se pudéssemos resumir a essência do Cinema Novo em uma frase, com certeza seria essa. Mas esse movimento foi e é muito mais que isso. Ele é um produto de seu tempo e simultaneamente é atemporal.
Preocupados em criar uma narrativa verdadeiramente brasileira e que se afastasse da grande influência estadunidense, os cineastas do movimento resolveram mostrar as áreas deixadas de lado, o Sertão Nordestino, as periferias, o interior do país, e as temáticas também ignoradas, como a fome, a miséria, e as profundas desigualdades sociais que eram gritantes naquela época e que infelizmente ainda são uma grande marca da sociedade brasileira.
Filmes como Barravento (1962), Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) de Glauber Rocha, Ganga Zumba (1964) de Cacá Diegues, Macunaíma (1969) de Joaquim Pedro de Andrade, buscam recontar a história do país sob um ponto de vista não-europeu, explorando as complexidades da identidade e valores nacionais, a influência da religião na sociedade e a luta de classes.
O Cinema Novo foi também resistência. Com o Golpe de 1964 e a instituição da Ditadura Militar, o movimento, celebrado lá fora em festivais de cinema, foi um dos mais perseguidos e censurados pelo governo que acreditava que o conteúdo desses filmes feria os valores cristãos e incitava o comunismo. De fato, é impossível dissociar as temáticas abordadas pelos diretores e roteiristas dos ideais marxistas.
No manifesto "A Estética da Fome" Glauber escreveu:
"Sabemos nós – que fizemos estes filmes feios e tristes, estes filmes gritados e desesperados onde nem sempre a razão falou mais alto – que a fome não será curada pelos planejamentos de gabinete e que os remendos do tecnicolor não escondem, mas agravam seus tumores."
Um retrato perfeito do que o Cinema Novo defendia, e acima de tudo, do papel político da arte.
Enfim, ainda há tanto o que falar sobre Cinema Novo, tantas discussões que poderiam ser levantadas, que por diversos motivos não couberam aqui, esse texto nada mais é dia um breve resumo, considere-o como um convite para pesquisar e conhecer mais sobre esse movimento artístico riquíssimo e genuinamente brasileiro. Consulte as fontes e valorize a cultura nacional!
Por Raízza Fernandes
E aí gostaram? Prontos para mergulhar na fonte riquíssima da história do cinema nacional? Esperamos que sim, a nossa cultura precisa ser apreciada, ainda mais agora que sofre com ataques constantes de quem não enxerga o valor de quem trabalha com arte. Nossos agradecimentos a Raízza Fernandes por mais essa brilhante contribuição, nossa futura jornalista conseguiu mostrar por meio de seu trabalho de pesquisa e com escrita tão apaixonada um dos pontos mais importantes da nossa história. E você parou para pensar o porquê de acontecimentos como esse serem tão pouco difundidos? Chegou a hora de fazer mais do que só se manifestar nas redes exaltando nossas obras, mas sim de fundamentalmente buscar conhecer e valorizar nossos filmes, o Brasil produz todos anos obras para os diversos gostos e do mais alto nível, então não tem desculpa para só assistir filmes estrangeiros, o cinema nacional precisa de vocês, a cultura nacional precisa de vocês!
Galera da cafeína muito obrigado por mais essa leitura esperamos que tenham curtido e continuem nos acompanhando para mais novidades!
Fontes:
A Primavera Do Dragão- A juventude de Glauber Rocha
Por Nelson Motta
Cinema Novo: “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”
Cinema Novo: a luta por uma estética nacional
Leia a íntegra do manifesto Uma Estética da Fome, de Glauber Rocha
Nenhum comentário:
Postar um comentário