#02 - Café propositivo - MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NO VALE DO SÃO FRANCISCO: PERTENCIMENTO E VALORIZAÇÃO - Flávia Vieira-Livros e Café's - Propondo com diálogo e café

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

#02 - Café propositivo - MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NO VALE DO SÃO FRANCISCO: PERTENCIMENTO E VALORIZAÇÃO - Flávia Vieira-Livros e Café's

Alô galera da cafeína! O café propositivo chega na sua segunda edição com Flávia Vieira, uma mulher de posicionamentos consistentes e com uma visão de mundo consciente. Flávia é do Vale do São Francisco, assim como o Propondo, e como futura historiadora que é, traz sua visão da cultura da nossa região, fazendo uma interlocução com o pertencimento e a valorização que são geradas. Temos muito orgulho de trazer um artigo com tamanha qualidade e fundamentação sobre as raízes de um povo tão espetacular, nosso diálogo sempre cafeínado ganha mais um capítulo muito especial. Então venham conosco apreciar e degustar!
 
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NO VALE DO SÃO FRANCISCO: PERTENCIMENTO E VALORIZAÇÃO 

O ensino de história local no Vale do São Francisco ainda é um campo pouco explorado apesar da riqueza cultural existente na região como: Rodas de São Gonçalo, Congos, Reisado, Religiões de matrizes africana, Samba de véio (este último foi declarado como Patrimônio Histórico Cultural Imaterial do município de Petrolina na LEI Nº 3.308 de 30 de julho de 2020) e etc.


Nesse contexto, essa lei é importante porque traz um respaldo para que o patrimônio cultural e o seu estudo sejam tratados com a atenção que esses conteúdos exigem, expandindo o debate para as outras formas de expressão citada acima que a lei ainda não abrange. No entanto, gostaria de enfatizar que essa lei é apenas o começo para a valorização dessas manifestações que além do seu valor cultural também possuem um viés político e social para a região do Vale do São Francisco.


Enfatizo que esses grupos, em sua maioria, são protagonizados por pessoas negras, e o racismo estruturante na nossa sociedade, invisibiliza o protagonismo negro, as religiões de matrizes africanas, as manifestações culturais populares e os debates sobre esses assuntos nos lugares de produção de conhecimento legitimamente autorizados, a exemplo das instituições de ensino. A escritora Nigeriana Chimamanda Adichie nos alerta para o perigo de uma história única e o quanto esta torna seus personagens indignos.  


Para as professoras Rosicleia Nunes e Clarice Bianchezzi “as manifestações culturais de uma sociedade apontam características de pertencimento de indivíduos a um grupo, desta forma ao identificarmos as principais manifestações culturais de um local podemos compreender os múltiplos elos identitários desta sociedade”. Nesse sentindo, tais manifestações são importantíssimas para compreender o contexto histórico e social do local em que o indivíduo está inserido.  


Para o ensino de história local se desenvolver é necessária uma conexão entre a universidade, escola e a sociedade. Os professores devem ter na graduação o contato com o tema para que na sua atuação em sala de aula haja uma devida preparação que ajude os alunos a formular questões que contribuam na busca do conhecimento histórico, pois “permitir que o educando compreenda seu espaço de convivência é o ponto inicial que o instigará a visualizar as diferenças, permanências e transformações que ocorre nas mais variadas sociedades, conduzindo-os a formação de um senso crítico”.


Nessa perspectiva, é importante que o professor ultrapasse os livros didáticos, utilize outras fontes, outros métodos, para que possa auxiliar os alunos na busca por conhecimentos, enaltecimento e na manutenção da cultura popular do local onde estão inseridos, assim teremos outras versões que combatem o racismo e o preconceito e que apresentem o negro de forma positiva e como sujeito de suas próprias narrativas.


Conheça mais um pouco sobre algumas dessas manifestações culturais.

Samba de Véio 

É uma manifestação cultural religiosa com mais de 100 anos de existência passados de “pai para filho” e que se perpetua na Ilha do Massangano até os dias atuais. Tem janeiro como um mês especial onde se comemora a festa de Santos Reis, em fevereiro com Iemanjá, em julho comemorando Santo Antônio e assim consequentemente. Ver mais em : CULTURA POPULAR - Assentada no presente, e não no passado, como muito se acredita, a criação de matriz tradicional se mantém como resistência de um povo que, nas suas dinâmicas, alia com precisão vida e arte

Rodas de São Gonçalo

Destina-se a pagar promessas ao Santo Gonçalo do Amarante, com coreografias em roda e um inteiro dedicado à música, dança e muita comida. A imagem do santo é colocada em um altar ornamentado e os dançarinos se organizam em fileiras/rodas e todos dançam concentrados ouvindo a voz do puxador. Ver mais em: Roda de São Gonçalo: Uma tradição que resiste em Juazeiro-BA

Reisado 

Conhecido também como Folia de Reis, é uma manifestação cultural popular que comemora o nascimento de Jesus. Formado por um grupo de músicos que percorre as ruas das cidades batendo nas portas das casas, pedindo prendas e anunciando a chegada do Messias, orações também são realizadas. Ver mais em: Reisado

Afoxé 

É um grupo de pessoas com um conjunto de instrumentos que desfila no carnaval das ruas da Bahia e de outras cidades brasileiras. No entanto, não é apenas mais um desfile na avenida, o afoxé surge como um movimento social, político e religioso para mostrar a presença do negro na sociedade. O ritmo está ligado ao candomblé, antes de sair para a avenida é feita uma cerimônia religiosa para que a festa ocorra de forma protegida. Na região do Vale existe os Filhos de Zaze, primeiro grupo de afoxé formado desde 2011 e que sai no carnaval de Juazeiro mostrando toda a sua resistência. Ver mais em: SANTOS, Mário Ribeiro. Práticas de Salvaguarda do Patrimônio Cultural Afro-Brasileiro em municípios do Submédio do São Francisco: experiências de ensino e pesquisa com o afoxé Filhos de Zaze e os alunos do curso de história da Universidade de Pernambuco Campus Petrolina (2015-2017). 

Por Flávia Vieira

Instagram Flávia Vieira

Livros e Cafés página de indicações de livros da convidada


Então galera da cafeína, vocês gostaram desse artigo cafeínado? Nós aqui do Propondo não só gostamos, como compreendemos que a História é importante porque nos dá condições de entender as estruturas sociais, políticas, econômicas, religiosas e tantas outras e não foi à toa que ao convidar Flávia para o blog queríamos aprender ainda mais sobre a história da nossa região e compartilhar com vocês toda essa riqueza. Flávia ao tratar das manifestações culturais no Vale do São Francisco (tema de seu belíssimo TCC) só avigora a ideia de que essas manifestações fazem parte da expressão cultural de um povo que merece reconhecimento e repeito. Percebemos também que essas manifestações são ricas, mas precisam de atenção maior quando se trata de valorização e pertencimento, já que faz parte da origem de uma sociedade. Flávia, agradecemos mais uma vez por sua disponibilidade e compartilhamento de diálogo e proposições, queremos você ainda mais aqui.
E é isso galera, é compreendendo a origem que podemos entender o processo de transformação da natureza para as formas de produzir a sobrevivência da humanidade e é exatamente essas contínuas manifestações/transformações que chegamos na adaptação à natureza que nos torna animais diferentes dos demais. Ao transformarmos a natureza, estamos produzindo cultura, portanto, criando sociedades que se expressam. A medida em que isso acontece, temos a chance de pensar sobre aquilo que o homem já fez, e debater os nossos valores, analisar e questionar o agora com uma “visão” de nossos antepassados.

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